quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Estações Feláveis


             Não mais contida entre os dedos
                           ou tardes febris de julho
        não mais pensá-la toda tesa e aberta
entre as folhas das bananeiras sorrindo.
são três horas da tarde
          em alguma beira de estrada
                   que teus olhos circundam Meus olhos sonham
   tuas pernas se abrindo como as manhãs em alguma cama
macia que suporta o amor Não mais dexedrine ou estações
                         feláveis Não mais “Asleep At The Trigger”
                                                       ou “Stella By Starlight”
        em porres solitários de fundamento onírico
                      e seria o amor uma divindade ágrafa,
   reposta a meu peito onde há muito nada vive?
    e teus lábios templos onde minha alma pousa
            gemendo pequenas perversões contidas?
sou feito da mesma matéria que é fabricada a poesia
de imensidões e devastações que o mundo se priva,
de cores ausentes e canções que ornamentam motéis
com a morte oscilando infernos sob meu peito

...e tua voz ainda ressona suave entre o clangor das locomotivas
cocainômanas que desdenham meu coração...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Dois Poemas Menores ou A Morte Fragmentada

#1


E os dias
correm anestesiados
sob velhos
toldos de armazéns
de uma velha face com pouca expressão
ouve-se o
bravejar contra as iniquidades
modernas
um velho
remenda cautelosamente seu
cigarro
centenas
de camas gemem sob seu crânio
secular
garotas resmungam sobre o gosto
de esperma amanhecido nos lábios
a desgraça
o persegue por trinta quarteirões
sem fósforos

uma vida realmente dura esta para
quem não possui manuais-práticos
para casos
de infelicidade constante."  


#2


eis-me então:
o retrato previsível do desastre
a morte gotejando algures
doravante em cores suportáveis
rumo ao nicho das máquinas febris.
eis-me em partes desconsideráveis
um sonho sobre mexicanas obesas
e maçãs delicadamente
assassinadas. 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pequena Canção Indelével




exaspera o amor,
este pequeno fragmento pós-vida de crueza indelével
tão veloz quanto o sonho ou a luz ao acalentar meus olhos inchados de porre
a dor ainda rege este crânio amolecido pelas ruas e desastres contidos
sem canção ou pura violência sou exposto em bivalentes catarses de morte espiral
não haverá coisa alguma a cantar esta boca desvalida pela loucura e excrementos
esta vida jamais sobrevirá a iridiscência contida na alegria estreante das manhãs
antes o amor das putas e seus pequenos acessos passionais de imbeleza tragável
antes a morte escancarada nos ombros destas proles horrendas guiando-me ao fim
exaspera este amor exaspera e doravante o medo entre quadros de rouxinóis desfigurados
exaspera o ardor que invento tal qual réquiem as noites sustentadas pelos ganchos dos hospitais.

uma lâmina ostenta o paraíso na visão turva que mastigo entre tuas coxas de Ísis esfacelada.



quarta-feira, 17 de agosto de 2011


a tarde
ousou em voz
a gravidade do canto
tornando ágrafo o poema
para que as linhas sustentem 
vida e não apenas o ócio das palavras
                                           cabíveis.
para que
o poema conduza
em luz a morte que opera
na mesma velocidade e ardor 
em que os sonhos são paridos a 
base de forceps quando cessa este 
motor de primaveras falidas que alimento

para que 
nada e luz 
profiram doravante a voz 
de rosas e locomotivas impraticáveis
                                         ao papel
e que o poema 
surja vivo
como templo
   a tua retina 
incendiário sob teus campos
                onde o sol não há
   pois este ofício de defuntos 
        não mais caberá a mim!

al schenkel, 10/09/10.

terça-feira, 19 de julho de 2011

De Saudosismos Impraticáveis

Que dirá a
beleza nesta hora
Sob os
redutos da amabilidade forjada
Que dirá se
não o apelo da estadia
Com beladona
nos lábios sebosos
Que dirá a
beleza ao violador
Quando este sugerir
apenas um breve espreguiçar de saias
Um breve
exaltar da carne secular
Sobre seus
lençóis estirados em puro aço.
Jamais se
ouviu o reverberar do amor sem trevas
Entre as
frestas que fortalecem o mofo da alma
O que há nas
tardes contemplativas se não indulgências
O que há na
beleza se não a vontade expressa
De currar ou
ser currado
É um vazio
imenso intransponível este
De
saudosismos impraticáveis
Freados como
cães degolados
Em noites de
madrigais chuvosos
O que é a
paixão se não um estado debilmente fictício
O assassinato
da verdade sem o peso da culpa
O que é a
beleza se não um emaranhado
De concepções
mutáveis transfiguradas
Conforme tal
necessidade e erroneamente
Declarada
amor
O que é o
amor se não almejar
Plenamente
alguém com 180 kilos
Somente
quando este realmente
não pesa 180
kilos

domingo, 20 de fevereiro de 2011

.um poema impresso sob tua coxa esquerda

 Um poema impresso
                  sob tua coxa esquerda
a eternidade oscila em teu seio levitando-me
   sob a morte plena das estações que ostenta.
                                                    Rompe-me.
                      Segura com doçura pelas bolas
e exprime a dor que deveras e sente
sente o céu apenas como paisagem primal
reluzido adentro de tuas nádegas civilizadas
                                                     pela rotina
e conheceis a vida
tal qual a morte tal qual a chuva ao observar-nos
exemplificando a existência
aninhando anjos sobre os sofás desnudos
                                      e meu sorriso de deus asmático
emudece sobre tuas ancas sacudindo as janelas de zinco
Um poema agora impresso
                 saltou do crânio
pousando sob tua coxa esquerda
quando no fundo buscava o lume veloz que habita o centro de tuas virilhas.

al schenkel, 09/06/2010

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

.uma tarde ocidental.

escrevo sobre as noites indormidas
sobre o recesso e as estrelas caídas
escrevo o que rumino durante o dia
e que a noite implora por vir à tona
os rastros pelas calçadas de ruas com bons nomes
o cheiro que perdura em botecos de baixa índole
o amor silencioso que renasce durante o frio
tudo que é apagado pelo sono saudável
tudo que é reprimido como um vômito inesperado
eu escrevo as frases não ditas por medo
e assim me consumo audaz e veloz
escrevo os chapéus engraçados que perambulam despreocupados
as bostas que esperam tranqüilas os sapatos que circulam
escrevo o excesso e a necessidade
e as canções assoviáveis das esquinas negras me perturbam
escrevo as senzalas e hospícios da alma
e toda a beleza estrangulada sem campos de girassóis
escrevo minha tia-avó suicidada aos 80 anos
escrevo a cadeira que a sustentou e também a corda
qual foi a visão que a libertou?
qual o inferno a possuía em tardes febris?
há um passado sombrio em todas as coisas
Mas que é facilmente domesticado